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Jornalismo da Atual FM tem acesso à íntegra da investigação que prendeu advogados na região

O jornalismo da Atual FM teve acesso exclusivo à íntegra da investigação que levou à prisão de três advogados investigados por atuarem como “sintonia” em uma organização criminosa que opera em Santa Catarina. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) apurou que os advogados usavam sua profissão para manter ativa a comunicação entre os membros da facção detidos em várias partes do estado e o grupo que estava na rua.

A investigação começou após uma interceptação telefônica em que um membro da facção pediu a outro que encontrasse “um advogado de confiança” para atuar na comunicação da facção. Em dezembro de 2019, um advogado de Concórdia visitou o detento pela primeira vez em Chapecó. A situação chamou atenção devido às várias visitas do advogado ao preso, embora ele não atuasse como defensor em nenhum dos três processos do detento. Em menos de três anos, o advogado de Concórdia visitou o detento pelo menos 38 vezes.

Chamado de “Gravata” na gíria da facção, o advogado de Concórdia, conforme a investigação do GAECO, forneceu aos integrantes da organização criminosa informações sobre investigações de um homicídio ocorrido em abril de 2020 e orientações para que “tivessem cuidado com a máquina”, referindo-se ao revólver usado no crime. Ele também alertou os integrantes da organização sobre uma operação policial iminente.

O GAECO apurou ainda que o advogado de Concórdia também passou a atuar em negociações de dívidas de drogas entre usuários e membros da organização.

Esposa envolvida

Durante as investigações, o GAECO descobriu que a esposa do advogado cedeu voluntariamente sua conta bancária para movimentação financeira, com o objetivo de dissimular e dificultar o rastreio dos valores.

Vinculação era além da relação cliente/advogado

Durante a investigação conduzida pelo GAECO, os investigadores concluíram que o advogado de Concórdia, que atuava em Joaçaba, ia muito além da relação cliente/advogado. Segundo os policiais, a vinculação passou a ser entre membros e apoiadores da organização criminosa, com recebimento e repasse de valores provenientes do narcotráfico para atender aos interesses dos faccionados e alavancar a continuidade das atividades da associação.

Durante o período analisado, de janeiro de 2020 a dezembro de 2023, a esposa do advogado de Concórdia movimentou R$ 1,8 milhão em créditos e R$ 1,9 milhão em débitos. Os valores eram recebidos na conta dela e transferidos para membros da família de investigados e integrantes da facção. Todos os valores recebidos na conta do advogado e sua esposa são questionáveis, pois não há qualquer vinculação profissional do investigado, já que os valores não ingressaram na conta do escritório de advocacia nem na titularidade do próprio advogado, que não consta como advogado do detento.

Articulador

Durante a investigação, o GAECO conseguiu provas de que o advogado de Concórdia estava totalmente à disposição da organização criminosa para difundir informações, facilitar a comunicação entre internos e integrantes em liberdade e prestar apoio técnico, movimentando valores, negociando dívidas e também aparelhos telefônicos. Ele passou a promover e integrar ativamente a organização criminosa.

Advogado e esposa não agiam sozinhos para desviar foco

A investigação apurou que o advogado de Concórdia e sua esposa não agiram sozinhos com o objetivo de desviar o foco de qualquer suspeita. Os três advogados permanecem presos, assim como a esposa do advogado de Concórdia, que atuava há alguns anos em Joaçaba.

Para desviar o foco sobre sua conduta suspeita, que chamava atenção não só pelas frequentes visitas a detentos, dos quais ele não defendia, mas também por outros episódios registrados na Penitenciária de Chapecó, o advogado de Concórdia contou com o auxílio de outras duas advogadas.

Contato clandestino

Em algumas oportunidades, a investigação apurou que os advogados mantinham uma rotina de comunicação com detentos de forma clandestina, por meio de celulares. Entre as próprias advogadas, havia uma comunicação que deixava clara a participação delas na organização criminosa.

Investigado “tomava cuidado” com as operações policiais

Os advogados presos na operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) buscavam, à medida que operações policiais eram realizadas na região, tomar cuidado com as visitas que faziam aos apenados. Quanto mais a atenção da polícia se aproximava do advogado suspeito de manter a comunicação da organização criminosa, mais eles buscavam se cercar de cuidados, afastando-se diretamente do fluxo de informações até perceber que poderiam retomar a ação com mais segurança.

Quando os defensores verificaram que suas ações, comandos e instruções aos faccionados estavam registradas em celulares apreendidos e que outras advogadas estavam sendo presas em outras operações do GAECO, eles passaram a evitar visitas diretas aos faccionados. Contudo, para manter o vínculo, solicitavam ao final de audiências para permanecer no link do Poder Judiciário e ali conversar com seu companheiro, longe de qualquer registro.

Atuação desde meados de 2020

O GAECO apurou ao final da investigação que o advogado de Concórdia atuava desde meados de 2020 na articulação da facção criminosa, levando recados para os faccionados reclusos. As outras duas advogadas foram interceptadas, e as conversas evidenciaram o envolvimento delas com a organização criminosa.

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