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O problema do Brasil não é exatamente as reformas, mas quem as está propondo

temerO grande problema das reformas brasileiras é a falta de credibilidade de quem as está propondo. Os nomes mais conhecidos da política brasileira, sobretudo pela influência que exercem no executivo e legislativo, estão implicados na corrupção que vem sendo apurada pela Operação Lava Jato. O presidente Michel Temer, por sua vez, tem aceitação de menos de 10% da população brasileira, conforme apurou no domingo, dia 30/04, pesquisa do Instituto Data Folha.
Não há como esperar coisa boa de quem não tem moral para propô-las. Que o Brasil precisa de avanços nas políticas trabalhista e previdenciária é fato. O que não se admite, entretanto, é a forma como as coisas estão sendo feitas. O próprio presidente que, muito recentemente, prometeu que a reforma da Previdência seria igualitária para todos os brasileiros, sem exceção, já autorizou seus súditos a negociar, costurar e conceder privilégios, não só em busca de apoio para as medidas mas também para beneficiar os que sempre foram amigos do poder ou os que representam algum tipo de ameaça à sua permanência no cargo.
Por que, por exemplo, manter privilégios de políticos, militares e membros do judiciário nas propostas em questão, quando se sabe que são justamente os excessos que estão quebrando a previdência e não o trabalhador comum, que ganha um salário mínimo ou pouca coisa mais que isso?
Obviamente que a greve geral que praticamente parou o Brasil na sexta-feira, dia 28, foi engrossada por muitos dos que querem manter conquistas, direitos ou privilégios – a denominação depende do ponto de vista de quem olha – entre esses, sindicalistas, que veem a própria existência de seus sindicatos ameçada, mas também teve a adesão, é preciso que se reconheça, de trabalhadores comuns e estudantes, que se veem diante de um futuro duvidoso.
O grande medo de quem está ou pretende ingressar no mercado de trabalho é, a partir de agora, encontrar garantias cada vez mais frágeis em termos de direitos, enquanto que as obrigações tendem a se multiplicar num universo de poder desigual, ou seja, sem lei que os proteja, os trabalhadores terão mínimas forças de negociação com os patrões. Na que tange à previdência, não é só o aumento do tempo de contribuição e de idade que preocupam, mas a instabilidade cada vez maior que se abate sobre os empregados, que já não conseguem manter uma regularidade de contribuição, tendo em vista ser muito difícil, nos tempos atuais, permanecer num mesmo emprego por muito tempo. Dessa forma, muitos dos contribuintes não se aposentariam nunca.
Fosse menos voraz e mais credível para negociar, teria o governo proposto uma reforma mais amena, mas com respeitabilidade para abranger todas as categorias sem exceção. Mas não. É justamente por sua relação capenga com o poder que Temer vê-se obrigado a fazer arranjos, manter privilégios dos que menos precisam e, dessa forma, causar tremenda desconfiança da massa populacional. Temer, portanto, não tem respaldo para fazer valer sua vontade, a não ser, claro, como sempre ocorreu neste país, em troca de benesses, como cargos e vantagens inclusive financeiras, que, não raro, bebem na fonte da corrupção.
A população que foi às ruas no dia 28 não o fez só porque é simpatizante do Lula ou porque interpreta o presidente da República como um golpista usurpador do poder, como muitos querem fazer acreditar. Foi sim porque já não crê mais no discurso e muito menos nas práticas desses que fazem e acontecem e nunca pagam devidamente por seus desmandos. Foi sim porque não há como confiar em quem se alimenta da corrupção e dos impostos do povo brasileiro, sem a ele dar em troca os benefícios a que tem direito.
As reformas que estão aí propostas ocorrem, portanto, num mau momento, num momento de grande incerteza para o Brasil e de total descrédito da classe política. Fica, assim, a dúvida, se algo de bom pode sair desse episódio. Se depender do julgamento dos trabalhadores brasileiros, a resposta é não. Resta saber, porém, se os chamados representantes do povo darão ouvido à voz que ecoa nas ruas.

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